AUTOR: PEDRO ABREU
A origem do
Universo é um tema que sempre interessou a humanidade. Em todos os povos, e
épocas, surgiram tentativas de compreender de onde veio o que conhecemos. No
passado, a religião e a mitologia eram as únicas fontes de conhecimento. Elas
propunham uma visão de como os deuses produziram o mundo.
Há mais de dois
mil anos, surgiu o pensamento filosófico. Ele propôs uma nova abordagem,
modificando e abandonando a tradição religiosa. Com o desenvolvimento da
ciência, apareceu outro modo de estudar a busca para se compreender o Universo.
Atualmente, a
ciência predomina. É dela que as pessoas esperam obter a resposta às indagações
acerca da origem do Universo. As notícias, dão a impressão de que acabaram os
mistérios, que não há mais dúvidas sobre o início e evolução do cosmo.
Mas a verdade não
é essa. Há anos, que os jornais repetem as mesmas manchetes, com notícias
diferentes. As teorias sobre a origem do universo ainda devem sofrer mudanças,
no futuro.
A ciência não é o
único modo de se estudar e tentar captar a Realidade. As antigas indagações
ressurgem sempre: será possível que o Universo tenha surgido sem uma
intervenção? Até que ponto os pensamentos descritivos se contradizem e se
completam?
Ao longo da
história da humanidade, desenrolou-se - e ainda se desenrola - um enorme
esforço para descobrir de onde veio tudo aquilo que existe. Sabendo-se das
fases pelas quais já passou o pensamento humano, podemos descrever o estágio
atual de nossos conhecimentos.
Para isso,
devemos conhecer a aventura intelectual da humanidade: a tentativa de entender
a origem do Universo, a sua origem e o seu significado.
A história do
pensamento humano mostra muitas tentativas para se compreender a origem do
Universo. Essa busca existiu em todas as civilizações e em todos os tempos. Mas
a forma de descrever essa explicação variou.
O mito, a
filosofia, a religião e a ciência entre outros procuraram dar uma resposta às
questões: O Universo existiu sempre, teve um início? Se ele teve um início, o
que havia antes? Por que o Universo é como é? Ele vai ter fim?
O conhecimento
moderno acerca do Universo está distante do que era explicado pelos mitos e
religião. Nenhum deles descreveu o surgimento do sistema solar, do Sol, das
galáxias e da matéria.
Por que não
desistimos, de conhecer a origem de tudo? Que importância pode ter o ocorrido
há 20 bilhões de anos?
Possuir uma
compreensão acerca do Universo parece ser importante para que possamos nos
situar no mundo, compreender nosso papel nele.
Essa busca
iniciada pelos humanos ainda não terminou. De uma forma e de outra, todos
participamos dessa procura.
De onde veio o
mundo? Como ele surgiu? De onde vieram os humanos? Qual o significado do que
existe? Em todos os tempos e em todas as civilizações, essas foram perguntas
que inquietaram a humanidade e que receberam diferentes tipos de respostas.
As explicações
antigas, eram denominadas “mitos”: estórias que descreviam como personagens
sobrenaturais, fizeram o mundo primitivo, criaram os animais, as plantas, os humanos
e estabeleceram os costumes, as leis, a estrutura da sociedade.
Esses mitos estão
associados a uma visão simbolizante: os elementos descritos nos mitos eram respeitados
e obedecidos; dependendo da criação, deviam ser feitos cultos que produziam o Universo
e o humano. Eles explicavam como surgiram tudo o que tem importância para a
vida na Natureza.
O mais antigo
mito ocidental conhecido sobre a origem de tudo é o Enuma elis, um mito babilônico que parece ter sido elaborado cerca
de 4.000 anos atrás. Ele começa falando sobre a unidade primitiva.
Outro aspecto
interessante é que, nos mitos, os deuses vão estruturando o Universo,
produzindo suas partes, dando nomes e estabelecendo as leis que devem ser
obedecidas para todos os fenômenos.
O mito descreve
também as outras fases de criação do Universo, até a produção dos humanos.
O estabelecimento
de uma organização, de uma ordem, é o essencial de todo mito de origem do
Universo – os chamados “mitos cosmogônicos”. Ele pressupõem que já existe algum
elemento, desde a origem.
Ao invés de criar
tudo a partir do Nada, uma divindade modifica essa situação, dividindo-a e
produzindo outras. É comum o aparecimento de uma espécie de água primordial, escuridão
como ponto de partida do mito.
Estudos
realizados mostram que temas e idéias básicas se repetem. Em alguns casos, a
tradição de um povo pode ter sido passada a um outro povo.
Lembranças
pessoais de sua vida e, por outro lado, imagens gerais, uma espécie de memória
da raça humana, herdada por cada pessoa ao nascer impera nas culturas do
planeta.
Os mitos não são tidos
como lendas, São considerados como descrição de experiências, ocorridas em um
tempo primordial, envolvendo figuras não humanas que produzem uma nova
realidade. Eles servem para explicar o mundo, a sua maneira.
As concepções acerca
da origem do Universo não eram consideradas apenas como uma satisfação de uma
curiosidade intelectual. Elas possuíam uma utilidade prática, na vida das
pessoas.
O mito serve,
para recriar um estado original perfeito, a partir de uma situação de
degradação e decadência. O mito da origem do Universo serve como modelo para a
criação, renovação e revitalização da vida.
Os mitos e a
religião são fenômenos que surgiram em todos os lugares, em todos os povos. A
filosofia, pelo contrário, é uma restrita compreensão do Universo.
Em alguns lugares
do mundo, como a Grécia e a Índia, apareceu um tipo de pensamento que procurou
dar uma explicação para o mundo sem utilizar mitos.
Mas isso não ocorreu
de repente, nem houve abandono das compreensões mitológicas e religiosas.
Muitas vezes, elas foram aproveitadas para entender o surgimento da filosofia.
A mitologia grega
foi de grande importância e influenciou toda a cultura ocidental.
Os textos antigos
que conservam informações acerca da mitologia grega são as obras atribuídas a
Homero (Ilíada e Odisséia), compostas nos séculos IX antes da era cristã; e as
obras de Hesíodo do final do século VIII a. C.
A Teogonia de
Hesíodo é, uma mitologia sofisticada e intelectualizada. Ela terá, influência
sobre os filósofos gregos.
De forma semelhante,
surgiram na Índia mitos sobre a origem do universo que já apresentavam muitos
elementos filosóficos.
No Código de Manu
aparece um aspecto original e interessante: o Universo não é criado apenas uma
vez. Ele é cíclico, sendo repetidamente criado e destruído.
Nenhuma outra
tradição da Antigüidade conseguiu imaginar durações de tempo tão longas quanto
as do Código de Manu.
No início, o
pensamento mítico poderia ter se sofisticado, sem deixar de ser o que tinha se
tornado: um pensamento religioso. No entanto, em torno do quinto século antes
da era cristã, ocorreu tanto na Grécia quanto na Índia uma crítica à religião e
uma tendência ao surgimento de um pensamento distinto da religião: a filosofia.
Na Grécia, um
representante que criticou os mitos foi Xenófanes de Cólofon (576 a 480 a.C.). Com
a mudança na maneira de ver o Universo, ele aponta que os deuses da mitologia
grega tinham muitos problemas de ordem moral: não eram justos, vingativos,
adúlteros, ciumentos, etc.; além disso, tinham se tornado semelhantes aos
humanos, já que tinham corpo, voz, roupas – e nada disso era compatível com a
idéia de um deus.
Xenófanes
considera a mitologia como uma criação da imaginação humana, que projeta sobre
os deuses aquilo que conhece sobre os próprios humanos. Ele considera que
existe uma compreensão verdadeira e elevada: Há um deus acima de todos os
deuses e humanos; nem sua forma nem seu pensamento se assemelham aos dos
mortais.
Alguns filósofos
gregos, como Demócrito e Epicuro, negaram a existência de deuses e
desenvolveram uma compreensão atomista, na qual tudo o que existe é formado por
átomos.
Nessa visão, não
existem “deuses”, mas apenas átomos que depois se dissolveriam como qualquer
deus. Os mitos, por isso, não tinham valor e precisavam ser substituídos por um
outro conhecimento do mundo, surgindo daí a idéia de ciência.
Essa queda da
crença dos mitos levou a dois desenvolvimentos na filosofia grega.
Por um lado, ao
desenvolvimento de interpretações simbólicas dos mitos e à tentativa de extrair
deles ensinamentos filosóficos gerais.
Por outro lado,
ao desenvolvimento de concepções filosóficas que substituíssem os mitos e
permitissem compreender o Universo e sua origem, sem a intervenção de deuses.
A filosofia surge
quando a tradição religiosa e mitológica é colocada em dúvida. Tanto na Grécia
quanto na Índia, surgem concepções filosóficas diferentes da tradição
mitológica; mas os caminhos seguidos são diferentes.
Enquanto a filosofia
grega se baseia na razão, no pensamento, em raciocínios lógicos, cujo modelo é
a matemática. No pensamento indiano, há um processo de conhecimento não
racional, uma “visão” da verdade, obtido através da meditação.
Surgiram novos
valores, e uma sociedade aberta, pessoas confiantes em seu poder individual,
com um enfraquecimento da tradição cultural e do respeito pelos mitos, pela
religião, pela autoridade antiga.
Tales,
Anaximandro e Anaxímenes são filósofos pré-socráticos, da mesma cidade (Mileto)
e do mesmo período (século VI antes da era cristã).
Eles possuem um
ponto em comum: ensinavam que tudo se originava de uma única matéria
primordial, que seria o “princípio” (em grego, “arqué”).
Os filósofos pré-socráticos
não concordaram a respeito do número e do tipo de elemento e princípio de toda
matéria. Anaximandro ensinava que o princípio e elemento de tudo não era
definido e ninguém sabia seu significado.
Anaximandro
parece ter sido o primeiro pensador grego a propor uma teoria pela qual o mundo
se forma a partir de uma matéria que existe por si mesma, e na qual não ocorre
a intervenção de deuses e outros elementos sobrenaturais.
Entretanto, o que
se percebe é apenas outra maneira de falar dos mitos através do mito geral
denominado agora de “razão”.
Anaximandro
apresenta uma visão do Universo primitiva. A Terra, para ele, ainda não é
esférica: é um cilindro, com diâmetro três vezes maior do que a altura. Entretanto
é um grande avanço, para a época.
Em cada
momento, o conhecimento sobre o Universo vai se modificando, e da mesma forma
mudam as explicações dadas sobre a sua origem. Anaximandro, ao contrário de
outros pensadores anteriores, coloca a visão de não finito e não limitado,
enquanto que a visão imediata do mundo é a de que ele é finito, e que termina
“logo ali”, no céu.
Empédocles
viveu no século V antes da era cristã, foi considerado o primeiro filósofo
grego a apresentar a concepção dos quatro elementos materiais (terra, água, ar
e fogo) para descrever a composição do Universo.
Esses
quatro elementos são descritos como sendo as “raízes” de tudo. São associados a
quatro divindades: Zeus (fogo), Hera (ar), Hades (terra) e Nestis (água).
O Universo,
para Empédocles, é cíclico: há momentos em que as “raízes” brotam a partir de
uma unidade, e constituem tudo; e há outros momentos em que elas se reúnem, e
formam uma unidade novamente não mais aparecendo tudo. Não existe um início
absoluto do Universo, mas apenas diferentes estados que se alternam.
O atomismo
grego se inicia com Leucipo (da cidade Mileto) e Demócrito (de Abdera), ambos
do século V antes da era cristã.
Pode-se
dizer que foram os primeiros gregos a admitir a existência de um espaço vazio,
o vácuo, no qual se moviam partículas eternas, que não se modificavam – os
átomos.
Até essa
época, todos os outros filósofos havia concebido um Universo preenchido pela
matéria.
Na concepção dos
atomistas, os átomos não se atraem nem repelem: não existem forças entre eles.
Eles se prendem porque não são lisos, e podem se “enganchar” uns nos outros. A
união dos átomos semelhantes não seria produzida por nenhuma força atrativa.
Essa concepção
dos atomistas é original e revolucionária, na época. Antes deles, ninguém havia
imaginado que pudessem existir outros mundos, nem que nosso mundo – a Terra e
aquilo que está em volta dela – fosse apenas uma pequena região em um universo
infinito.
A filosofia
atomista rompe com a visão de mundo que era aceita na época, e tira a Terra e o
humano do centro do Universo. Ainda mais: o atomismo destrói a base da
religião, negando a existência de deuses capazes de interferir no mundo.
Qual o objetivo
da filosofia atomista? Segundo Epicuro, o objetivo é a tranqüilidade que vem do
conhecimento. Pois as pessoas que não conhecem as causas dos fenômenos da
Natureza acreditam em deuses e ficam sujeitas ao medo.
Pois, acreditando
nos mitos, as pessoas podem temer algum castigo, e ficar sob o domínio de
opiniões erradas.
A que leva todo o
pensamento atomista? O Universo e todas as suas partes são vistas como
máquinas, que se formaram ao acaso, que não foram planejadas por ninguém, que
existem durante algum tempo e depois se dissolvem.
O mundo não tem
uma finalidade; não existem deuses a serem respeitados e obedecidos; o humano é
livre, não existe um castigo e punição após a morte. Ele está só, em um mundo
sem início, um mundo mecânico.
O humano está
liberto dos mitos e do medo, mas perdeu a possibilidade de sentir-se como parte
de um Universo vivo, bom e sábio.
Perdeu os rituais,
e não pode mais ultrapassar o tempo e reviver a origem de tudo. O atomismo deu
ao humano o vazio – em vários sentidos.
O processo de
crítica da tradição mitológica e religiosa, na Grécia, originou dois tipos de
resultados.
Por um lado,
houve o desenvolvimento de uma filosofia “pura”, que procurou se desvincular da
tradição. Por outro lado, alguns pensadores procuraram reinterpretar os mitos,
encontrando neles significados simbólicos ocultos.
No início da
Idade Média, o pensamento de Platão foi o que mais influenciou o pensamento
Europeu. Ele aparece nitidamente na obra de Santo Agostinho.
Ao final da Idade
Média, Aristóteles é o filósofo de maior influência e é sua filosofia que serve
de base a Tomás de Aquino.
Depois disso, o desenvolvimento
acerca do conhecimento do Universo permaneceu estacionário durante séculos. Mas
a humanidade não parou, o que logo vai originar conflitos entre a Igreja e os
pensadores.
Entre o final da
Idade Média e o início da Idade Moderna, o período do Renascimento apresentou
uma volta à cultura antiga e um ressurgimento de idéias filosóficas que haviam
sido esquecidas.
Uma influência
foi o ressurgimento da alquimia, da astrologia e da magia, com uma base
filosófica representada pelo neo-platonismo.
Nessa concepção,
que se popularizou muito no Renascimento, uma das idéias importantes é a de que
o humano é um universo em miniatura, um “microcosmo”, comparado com o Universo
à sua volta, o “macrocosmo”.
Como se vê, esse
pensamento simbólico que se desenvolveu durante o Renascimento e permaneceu no
início da Idade Moderna, não adiciona nada que possa ser considerado um avanço
científico e filosófico para se conhecer o Universo.
Em cada fase da
humanidade, a tentativa de explicar o surgimento do Universo precisa tentar dar conta daquilo que se conhece sobre a
estrutura do Universo.
Mas o
conhecimento sobre o mundo foi mudando. Na antiga Grécia, na época de Platão,
já se sabia que a Terra era redonda. No século IV antes da era cristã, o
filósofo Aristóteles, de Estagira (384 a 322 antes de Cristo) apresentou
argumentos claros para mostrar a forma da Terra.
Aos poucos, a
visão de uma Terra esférica foi sendo aceita. Aristóteles desenvolveu uma teoria,
na época, para tentar compreender essa descoberta. Mas, ele pensava, os
antigos, que não era possível a existência de espaços vazios de matéria.
Nos séculos XVI e
XVII, a Europa passa por uma fase de ebulição intelectual e de renovação do
conhecimento. É no século XVI que Nicolau Copérnico (1473-1543) com uma nova
visão, propõe uma teoria heliocêntrica, na qual o Sol é o centro em torno do
qual se movem todos os planetas; e a própria Terra é tirada do centro do
Universo e considerada como um dos planetas, girando em volta do Sol.
Muitas pessoas
continuaram a aceitar e a defender o pensamento de Copérnico. Galileo Galilei
(1564-1642) foi um dos defensores do heliocentrismo, tendo proposto uma nova teoria,
diferente de Aristóteles, para tornar aceitável que a Terra se move em torno do
Sol.
Um dos pensadores
da primeira metade do século XVII foi o francês René Descartes (1596-1650).
Afastando-se da
tradição bíblica, Descartes imaginou que o Universo todo poderia ter se
originado e produzido tudo o que conhecemos, sem a intervenção divina.
Mas, Isaac Newton
um pesquisador da época ataca cuidadosamente e de modo arrasador diversos
pontos da teoria de Descartes, afirmando que a mesma não era aceitável.
Após a crítica de
Newton, a teoria de Descartes vai perdendo a aceitação que tinha. No entanto,
durante muito tempo, não surge uma alternativa.
A questão da
origem do Universo volta a ser um problema religioso. Newton não faz nenhum
estudo propriamente cosmológico, isto é, sobre o Universo como um todo.
A
tentativa posterior de tentar desenvolver uma teoria sobre a origem do
Universo, a partir da física de Newton, foi feita pelo filósofo Immanuel Kant
sob o título: “História Geral da Natureza e Teoria do Céu, Ensaio sobre a
Constituição e a Origem Mecânica do Universo em sua Totalidade, de Acordo com
os Princípios de Newton”.
Kant conhece bem
os filósofos antigos, e diz que sua teoria tem semelhança com a dos atomistas –
Leucipo, Demócrito, Epicuro e Lucrécio.
Mas, enquanto os
atomistas vêem no Universo apenas o resultado do acaso, ele vê o resultado da
ordem e de leis. É essa ordem geral – a existência de leis válidas no Universo
– que Kant considera como representando a interferência de Deus no mundo.
A ciência moderna
não discute por que existem leis na Natureza. A ciência procura quais são as
leis da Natureza, sem se perguntar se existem essas leis, pois elas parecem
existir; e não se preocupa em entender o motivo pelo qual existem leis.
Seria por uma
decisão de Deus? Seria por algum outro motivo? Por acaso? Essas questões
ultrapassam o campo da ciência, e não são respondidas pelos cientistas.
No final
do século XVIII, surge uma importante teoria, proposta por Laplace –matemático
e físico. Essa teoria foi publicada em 1796, quarenta anos após o livro de
Kant.
Pierre Simon
de Laplace (1749-1827) propõe uma teoria que possui semelhança com a de Kant,
para explicar a origem do sistema solar. Sua teoria se restringe a nosso
sistema e não tenta explicar o desenvolvimento do Universo como um todo.
A teoria de
Laplace é menos ambiciosa do que a de Kant. Ele não pretende estudar o Universo
como um todo, e nem mesmo discute a natureza de nossa galáxia e sua rotação.
Quer apenas
compreender a formação do sistema solar para explicar as características gerais
do movimento dos planetas.
De Laplace
até hoje, houve muitas tentativas para explicar a origem do sistema solar.
Várias delas foram modificações das idéias de Kant e de Laplace.
Quando se
discutia a questão de um Universo pareciam não existir problemas sobre a noção
de espaço. Havia, muita discussão, mas sob o ponto de vista matemático.
Até o
início do século XIX, se pensava que a geometria de Euclides era verdadeira e
que qualquer afirmação contrária a ela era absurda.
Mas, nessa
época, alguns matemáticos começaram a desenvolver outros tipos de geometrias,
que eram diferentes de Euclides e que negavam muitas das propriedades do espaço
que eram aceitas antes.
Essas “geometrias
não-euclidianas” foram desenvolvidas por János Bolyai (1802-1860) e Nicholas
Lobatschewsky (1793-1856), recebendo depois contribuições de outros
matemáticos, como Georg Bernhard Riemann (1826-1866).
Essas outras
geometrias violam a nossa intuição geométrica comum. Mas elas podem ser
entendidas por uma comparação e analogia.
Há
diferentes tipos de espaços curvos que podem ser concebidos. Alguns são
análogos à superfície da esfera, e são chamados de espaços com curvatura
positiva.
Todas essas
propriedades geométricas diferentes foram estudadas pelos matemáticos como uma
possibilidade lógica, sem nenhuma correspondência com a realidade.
Todos eles imaginavam
que a geometria de Euclides era a única verdadeira e a que devia ser aplicada
ao nosso Universo. No entanto, depois de muitas tentativas, não conseguiram
provar, pela matemática, que as geometrias não-euclidianas eram falsas.
Lobatchewsky,
um dos matemáticos que se dedicou a esse tema, pensou que talvez pudesse
decidir qual o tipo de espaço deveria ser aplicado ao Universo através de
experiências, já que não era possível escolher apenas sob o ponto de vista
lógico entre as várias alternativas.
A antiga idéia
de infinito sofreu uma revisão, no final do século XIX. Todo o trabalho
realizado pelos filósofos, desde Aristóteles até Kant, havia alertado para os
problemas que podem surgir quando se fala em um tempo e espaço infinito.
Todas
essas idéias, sobre diferentes tipos de geometrias diferentes de Euclides,
desenvolvidas pelos matemáticos na primeira metade do século XIX, só tiveram
aplicações na cosmologia quase um século depois - após o desenvolvimento da
teoria da relatividade geral.
Nas
teorias e propostas seguintes os autores começaram tentaram explicar alguns
aspectos relacionados com a energia do Universo.
Todas
essas questões envolvem noções sobre energia. Mas o entendimento de energia como
ciência(termodinâmica) só surgiu na metade do século XIX. Antes disso, ninguém
tinha uma idéia clara acerca do assunto.
Na década
de 1840, tornou-se claro que a energia podia ser convertida de uma forma para
outra, mas nunca pode ser criada nem destruída.
Como o Sol
está continuamente irradiando energia para o espaço, e como a energia contida
em qualquer corpo deve ser finita, não é possível que o Sol tenha estado quente
desde um tempo infinito no passado.
Também não
é possível que ele continue a emitir energia, no futuro, por um tempo
ilimitado. Em algum tempo no futuro, a Terra estará fria – se ela não for
destruída antes.
O desenvolvimento
da termodinâmica levou aos estudos sobre a energia solar. Poderia o calor e a
luz do Sol vir da queima de matéria em sua superfície e em seu interior?
Enquanto não se faz nenhum cálculo, tudo parece possível.
Para se
poder fazer qualquer cálculo, foi preciso, em primeiro lugar, medir o calor que
é emitido pelo Sol. Isso foi feito em 1837 por de William Herschel filho e por
outro cientista, Claude Pouillet (1790-1868).
Um dos
descobridores da lei da conservação da energia, Julius Robert Mayer
(1814-1878), preocupou-se com esse problema. Em um trabalho publicado em 1848,
ele estudou uma outra alternativa.
Em 1854, Hermann
von Helmholtz (1821-1894) propôs que a causa do calor do Sol poderia ser sua
contração.
Sem o
conhecimento das leis físicas envolvidas e sem o estudo quantitativo detalhado
dos fenômenos, tudo fica no nível de suposições, apenas.
O estudo
da termodinâmica assumiu uma importância ampla, sob o ponto de vista
cosmológico. Lord Kelvin mostrou que a tendência da energia é dispersar-se.
Essa
conclusão pareceu chocante aos cientistas. Um deles, William Rankine, propôs em
1852 um modelo de reconcentração da energia do Universo, para que todos os
processos celestes pudessem recomeçar.
Pouco tempo
depois, Rudolf Clausius (1822-1888) estudou em detalhe os fenômenos de
dispersão e concentração das radiações e mostrou que essa reconcentração de
energia não era possível, mesmo com um universo finito.
É preciso notar
que a termodinâmica introduziu um elemento novo, no estudo do Universo o
conceito de energia. Até o século XIX, se as concepções religiosas fossem
deixadas de lado, parecia possível imaginar um Universo com uma duração infinita no passado e no futuro.
Aceitando a visão
religiosa, podia-se pensar que o Universo havia surgido em um certo tempo
atrás, mas que poderia durar para sempre, a menos que Deus resolvesse destruir
seu trabalho.
Agora, no
entanto, a Física dizia que o Universo não poderia ter luz e vida durante um
tempo longo, nem para o passado, nem para o futuro. Ele acabaria tendo o que
foi chamado de “morte térmica”.
Um
filósofo que se recusou a aceitar um fim absoluto para o Universo foi Friedrich
Nietzsche. Em uma obra, “O Eterno Retorno”, ele defende a idéia de um universo
que se repete sempre.
Esse “eterno
retorno” seria um ciclo sem início e sem fim, que se repete sempre e que não
leva a nada. Não há, portanto, finalidade, tendência, objetivo e nenhuma origem
para o Universo.
A proposta de
Nietzsche é interessante sob um aspecto: mostra a recusa em aceitar um universo
com início e fim. É uma reação à visão de universo que parecia não evitável,
diante da Física do século XIX.
Outras
pessoas propuseram, no início do século XX, hipóteses físicas para tentar
salvar o Universo da “morte térmica”, um deles foi o químico sueco Svante
Arrhenius (1859-1927), propondo que as estrelas, ao mesmo tempo que emitem luz
e calor, estariam também emitindo pequenas partículas para fora.
Embora os
mecanismos propostos por Arrhenius sejam interessantes, eles não podem impedir
a morte térmica do Universo. Nenhum desses processos pode recuperar toda a
energia perdida pelas estrelas.
Em 1931, a
idéia de um “eterno retorno” foi revivida pelo cientista inglês Arthur
Eddington (1882-1944). Em uma conferência apresentada em uma reunião da
Sociedade de Matemática de Londres, ele discutiu a questão da “morte térmica”
do Universo, tomando como ponto de partida as leis da termodinâmica.
Entretanto,
os cientistas não têm certeza sobre até que ponto a idéia de Eddington pode ser
aplicada ao universo.
Sob o ponto de
vista teórico, a física sofreu uma revolução nas primeiras décadas do século
XX. Surgiu a teoria da relatividade, que modificou a teoria da gravitação e
introduziu métodos matemáticos novos, envolvendo o estudo do espaço e do tempo.
Surgiu a mecânica quântica, que
trata das propriedades da radiação, dos átomos e de outras partículas.
Desenvolveu-se a
física nuclear, que levou ao conhecimento de fontes de energia antes não conhecidas
e ao estudo de processos capazes de alterar e de formar novos tipos de átomos.
Todos esses acontecimentos
foram trazendo novos elementos para o estudo do Universo. É difícil separar
cada aspecto do outro. Foram desenvolvidas duas teorias da relatividade. A
primeira delas surgiu no início do século XX devido aos estudos sobre a luz,
eletricidade e o magnetismo.
As mudanças que a
teoria da relatividade introduziu no entendimento de espaço e de tempo são as
mais importantes, ela indica que há uma outra grandeza, que depende tanto do
espaço como do tempo, que não se altera pelo movimento. Essa grandeza é o
“intervalo relativístico”
Criou-se assim,
na teoria da relatividade, o entendimento de “espaço-tempo”: uma conexão entre
o espaço e o tempo, do qual eles são aspectos parciais. O espaço-tempo é
absoluto, e não depende do observador.
O espaço-tempo
seria uma realidade, mas o espaço e o tempo seriam apenas projeções dessa
realidade e, por isso, dependem do observador.
A passagem da
antiga teoria da relatividade para a nova utilizou o chamado “princípio de equivalência”.
Foi preciso utilizar um formalismo matemático chamado “cálculo tensorial”, com
o qual se estuda qualquer tipo de movimento.
Na teoria de
Newton, a atração gravitacional é uma força entre dois corpos, causada pelas
suas massas. Na relatividade geral, um objeto cria em sua volta um campo
gravitacional, que é uma deformação do espaço-tempo.
Esse campo
gravitacional não depende só da massa do objeto; depende da energia, das
pressões e movimentos de matéria que existem em seu interior.
A deformação do
espaço-tempo criada pelo objeto vai influenciar o movimento de outros corpos,
fazendo com que eles se desviem.
Nem Einstein, nem
ninguém, começou “imaginando” um espaço curvo para depois fazer cálculos
baseados nessa idéia. O trabalho partiu de um formalismo matemático que,
acabaram levando à teoria.
Nosso Universo
não é homogêneo: ele tem concentrações de matéria (nas galáxias e nos corpos
celestes). Mas Einstein imaginou que um universo homogêneo era uma aproximação
para uma teoria do Universo.
Ele supôs que, se
o Universo começasse dessa forma (com matéria distribuída uniformemente), a
formação de galáxias, estrelas e planetas não iria alterar, esse equilíbrio, e
o universo poderia permanecer estático.
Havia, no
entanto, problemas com o “universo de Einstein”. Ele não conseguiu obter um
modelo em equilíbrio, e por isso ele fez uma alteração na teoria da
relatividade geral, introduzindo um fator chamado “constante cosmológica”, que
representa um tipo de repulsão gravitacional.
O “universo de
Einstein” tinha uma estranha característica: as equações levavam ao resultado
de que o tamanho total do universo não devia ser infinito, e sim finito.
Isso ocorria
porque o espaço-tempo é deformado pela presença de matéria e energia, e essa
deformação, levava à criação de um espaço “curvo”, análogo à superfície de uma
esfera: se uma reta for prolongada nesse espaço, ela deve retornar ao ponto de
partida, depois de percorrer uma distância finita.
Todos esses
modelos relativísticos descreviam universos homogêneos, em grande escala, e que
são iguais em todas as regiões. Há dois motivos para se estudar esse tipo de
modelos. Um é matemático e o outro é filosófico.
Como vimos, a
teoria da relatividade geral permite uma variedade de modelos. Dependendo dos
conhecimentos disponíveis em cada época, é possível escolher entre várias
alternativas.
As observações
astronômicas não decidem qual a teoria correta e por isso esses fatores
pessoais podem pesar bastante.
Paralelamente à
criação da teoria da relatividade e ao estudo do movimento das galáxias,
desenvolveu-se, no século XX, o conhecimento da radioatividade e da física
nuclear. Esse conhecimento levou a uma teoria para explicar a formação dos
elementos químicos que constituem o Universo.
Todas as teorias
científicas anteriores haviam suposto que os elementos químicos sempre
existiram. O desenvolvimento da física nuclear mostrou, no entanto, que era
possível introduzir a própria idéia de criação dos elementos durante a evolução
do universo.
Vários autores
propuseram teorias para explicar a formação inicial dos elementos químicos,
antes da criação das estrelas. Uma das teorias foi a do “Big Bang” (grande
explosão), proposta em 1947 por George Gamow.
Ele admitiu um modelo
relativístico do universo em expansão, utilizando os cálculos que haviam sido
feitos vinte anos antes por Lemaître, Friedmann, Walker, Tolman e Robertson.
Imediatamente
após a proposta do modelo do “Big Bang”, surgiu uma outra teoria cosmológica
diferente. Ela foi elaborada em 1948 por Hermann Bondi, Thomas Gold e Fred
Hoyle.
Ela supõe que o Universo
nunca foi e nunca será diferente do que é agora: nunca houve um estado passado
de concentração e explosão, nem haverá um estado futuro de dispersão e morte do
universo.
Essa proposta
radical, chamada “teoria do estado estacionário”, admite que as galáxias estão
se afastando umas das outras; mas interpreta de um modo diferente esse
distanciamento.
Até a
década de 1960, as teorias do “Big Bang” e do estado estacionário disputaram a
preferência dos cientistas. Pode-se dizer que havia mais astrônomos favoráveis
ao “Big Bang” do que à teoria do estado estacionário.
Mas a
decisão era, uma questão de escolha pessoal, pois não havia nada que pudesse
mostrar que uma delas estava errada e a outra certa.
Apesar de seus
aspectos interessantes e positivos, a teoria do “Big Bang” não é a última
palavra e não resolve todos os problemas. Da década de 1960 até 1990, houve
vários desenvolvimentos importantes.
No século XX, as
teorias cosmogônicas sofreram influência dos novos conhecimentos astronômicos e
de novas teorias físicas. Sob o ponto de vista de conhecimento do Universo,
surgiram métodos para se observar e medir as distâncias e movimentos das
galáxias, para estudar a composição química e outras propriedades das estrelas.
O
desenvolvimento de telescópios mais potentes tornou possível observar corpos
celestes que estão a enormes distâncias da Terra. E, a partir da metade do
século XX, foram desenvolvidos métodos para estudar diversos tipos de radiações
que vêm do espaço.
Nos
últimos anos, cientistas têm se dedicado a explicar um aspecto perturbador de
nosso cosmo: como somente 4% dele são feitos da mesma matéria encontrada em
você, nos planetas e estrelas, em todos os objetos que conhecemos. O resto não
é conhecido.
Não seria
a primeira vez que a maior parte do Universo está oculta para nós, em 1610,
Galileu anunciou ao mundo que, ao observar o céu usando um instrumento que
chamamos de telescópio –, descobrira que o Universo era composto por muito mais
do que podia ser visto.
A matéria
escura – um pedaço do nosso Universo que, até pouco tempo atrás, nós nem
sabíamos que devíamos procurar; era quase todo feito do que nem sabemos o que
é.
Mas na
primeira década do século XXI os astrônomos já sabiam que esse rico
recenseamento do Universo estava tão defasado quanto o modelo de cinco planetas
que Galileu herdara da Antiguidade.
O Universo
é feito apenas de uma pequena parte daquilo que sempre achamos que o compusesse
– a matéria que constitui você e eu, meu celular e todas aquelas luas,
planetas, estrelas e galáxias. O resto – a parte ampla do Universo ninguém
sabe.
Os
astrônomos estão descobrindo. A “derradeira revolução copernicana”, como muitos
a chamam, está acontecendo agora. Os pesquisadores que se viram liderando essa
revolução não planejaram isso.
Como
Galileu, não tinham motivo algum para suspeitar que iriam descobrir novos
fenômenos. Eles não estavam procurando a matéria escura. Não estavam procurando
a energia escura. E quando descobriram evidências tanto de uma quanto da outra,
não acreditaram.
Contudo, à
medida que as evidências se tornavam numerosas e sólidas, os astrônomos,
chegaram a um consenso: o Universo que pensávamos conhecer desde que a humanidade
observa o céu noturno é apenas uma sombra do que existe.
Estivemos
cegos para o Universo porque ele é feito do aquém que a vista alcança. Esse Universo é o nosso
Universo – um Universo que estamos apenas começando a explorar.
No mínimo
podiam os astrônomos se vangloriar de serem as primeiras pessoas na história do
mundo a entender a história do Universo.
Se o
modelo do Big Bang era uma interpretação da história do Universo, então como
ele surgiu de uma explosão de energia incrivelmente condensada e absurdamente
quente.
Os
astrônomos Arno Penzias e Wilson, através dos Laboratórios Bell haviam
construído uma antena em 1960 para perscrutar o Universo, e daí encontraram um
chiado persistente e não explicável.
Qual teria
sido o nível inicial da energia, e a partir disso qual seria o nível atual de
energia após bilhões de anos de expansão e resfriamento. Essa energia
remanescente –seria mensurável. Penzias e Wilson a haviam medido. Era o
nascimento do Universo.
Quando, no
século IV a. C, Platão desafiou seus discípulos a descrever os movimentos dos
corpos celestes usando a geometria, ele não esperava que as respostas
representassem o que acontecia no céu.
O que Ele
buscava era uma aproximação do conhecimento. Platão não queria que seus
alunos obtivessem a matemática que descrevia os fatos, mas as aparências.
A invenção
do telescópio mudou não só as distâncias que podíamos ver através do espaço, a
precisão de como as enxergamos. Ela transformou nosso conhecimento sobre o que
existia lá fora. Mudou as aparências.
Aqui
estavam evidências que corroboravam a questão central da matemática de
Copérnico: a Terra era um planeta, ela e os demais planetas orbitavam o Sol. E,
o que era mais importante, havia evidência – a ferramenta do método
científico.
Podíamos,
examinar o céu com detalhes o suficiente para vermos não só as aparências, mas
também os fatos. E fatos não precisam ser salvos, mas explicados.
No começo
do século XX, os astrônomos acreditavam que todas as estrelas que vemos à
noite, a olho nu e com telescópio, faziam parte de uma imensa coleção de
estrelas, alcançando a cifra de dezenas de bilhões que há muito tínhamos
batizado de Via Láctea, porque ela parece leite derramado no céu noturno.
De repente
o Universo tinha uma história para contar. Em vez de ser estático, ele era
dinâmico. Como em qualquer narrativa, a história do Universo não tinha só um
meio – o presente, um enxame de galáxias se afastando umas das outras –, mas
havia a sugestão de um começo.
O
sacerdote belga Georges Lemaître, físico e astrônomo, imaginou a expansão de
trás para diante, o Universo encolheria, ficaria cada vez menor, as galáxias se
aproximariam cada vez mais depressa, até que toda a matéria se concentrasse num
estado que ele chamou de “átomo primordial”, e que outros astrônomos chamariam
de “singularidade”: um abismo de densidade não finita, com massa e energia não
calculáveis.
O
pressuposto de Einstein, de um Universo homogêneo, tinha certa lógica, um
legado a apoiá-lo, mas não era suficiente para ser a base de uma ciência que
fizesse previsões à observação.
A primeira
indicação de que as ondas de rádio poderiam nos fornecer uma maneira de
enxergar o Universo veio nos anos 1930 – e por uma descoberta acidental, nos
Laboratórios Bell.
A
radioastronomia consistiu em parte de um movimento mais amplo de
conscientização, entre os astrônomos, de que o espectro eletromagnético – além
da estreita faixa do visível – poderia conter informações úteis.
O Universo
atual é feito, de 75% de hidrogênio, o elemento mais leve; seu número atômico é
1, o que quer dizer que ele tem um próton. Para que haja essa abundância de
hidrogênio, as condições iniciais devem incluir uma radiação intensa, porque
somente um ambiente extraordinariamente quente poderia ter agitado os núcleos
atômicos de forma intensa o suficiente para impedir que aqueles prótons
isolados se unissem a outras partículas subatômicas para formar o hélio e
outros elementos mais pesados.
Tanto o
modelo do Universo estacionário quanto o do big bang se apoiavam não somente na
matemática e nas observações, mas também em especulações. Eles eram
contrapartidas modernas da tentativa feita por Copérnico para salvar os
fenômenos; eram teorias em busca de evidências.
Mas isso estava para acabar.
Assim como
nossos olhos não precisaram evoluir para captar ondas de rádio a fim de que
pudéssemos sobreviver, o nosso cérebro não tenha precisado evoluir para
entender os números que os astrônomos agora incorporavam a uma nova forma de
pensar o Universo.
As
primeiras gerações de astrônomos tiveram de aprender a pensar diferente para
incorporar as sucessivas descobertas sobre as novas escalas do Universo: o Sol
está a 150 milhões de quilômetros de distância; a estrela mais próxima está a
4,3 anos-luz de distância.
Surgiram
os quasares – neologismo construído a partir do inglês quasi-stellar radio
sources (fontes de rádio quase estelares) – são sinais pontuais
potentíssimos, vindos do espaço profundo.
Sua
descoberta, em 1963, trouxe para os astrônomos provas contundentes de que o
Universo visto através das ondas de rádio não é o Universo que enxergamos com
nossos olhos.
No
Universo, todas as galáxias estão em movimento. A cada dois minutos, a Terra se
move cerca de 4 mil quilômetros em sua órbita ao redor do Sol; o Sol se move
cerca de 30 mil quilômetros em sua órbita ao redor do centro distante da
galáxia.
Durante
uma vida humana média de setenta anos, o Sol se move cerca de 500 bilhões de
quilômetros. Mesmo assim, isso é apenas um pequeno passo em sua grande órbita:
o Sol leva 200 milhões de anos para dar uma volta completa ao redor do núcleo
galáctico.
Edwin
Hubble havia descoberto provas de que o Universo se expande ao estudar o
comportamento das galáxias. O Universo ganhava vida. As galáxias se moviam em
recessão, seguindo o fluxo de expansão de Hubble.
A
velocidade diminuía, por conta da atração gravitacional entre elas, e as
galáxias ficavam cada vez mais lentas, até que paravam de seguir o fluxo da
expansão e começavam a se aproximar, caindo umas sobre as outras. As menores se
aproximavam da maior galáxia por perto, formando blocos, e estes se atraíam,
formando blocos de blocos.
Para
entender problemas específicos da evolução e estrutura do Universo – a
organização das galáxias em aglomerados, por exemplo –, cabia deixar de lado
qualquer hipótese residual que envolvesse um “universo-ilha”.
Era
preciso aprender a pensar o Universo não somente como um conjunto de galáxias
individuais, mas como a soma de todas elas – um todo. Devia se ter em mente
que, enquanto o todo (o Universo) estava se expandindo, suas partes (as
galáxias) evoluíam.
Desde
meados do século XX, os astrônomos haviam descoberto que observar o espectro
eletromagnético mais longe do que era possível com o telescópio ótico permitia
ver ainda mais do Universo – incluindo o eco de suas origens.
A
combinação entre o espectrógrafo e o telescópio maior permitiria levar os
estudos sobre o Universo a galáxias mais distantes, e também a periferias mais
afastadas das galáxias espirais.
Quando se fez um
cuidadoso mapa tridimensional da distribuição das galáxias por todo o espaço
que nos cerca, descobriu-se que existem enormes “buracos”, onde há poucas
galáxias, cercados por regiões normais, povoadas por galáxias.
É como se o Universo
fosse um queijo suíço, mesmo como uma esponja, cheia de buracos. O tamanho
desses “buracos” varia entre 50 e 150 milhões de anos-luz.
Nenhuma teoria
cosmológica havia previsto esse tipo de “buracos”. Os cientistas logo
procuraram explicá-los, de diversas formas; mas o próprio fato de que nenhuma
teoria havia previsto sua existência já indica que qualquer explicação acaba
sendo um “jeitinho” de salvar as teorias antigas.
Será que as
teorias recentes conseguem explicar os aspectos gerais e amplos do universo
conhecido? Parece que não. Ainda não existe uma teoria satisfatória de formação
do sistema solar.
Há um
domínio para dúvidas com relação às teorias sobre a origem e evolução do
universo. Há pontos fundamentais sobre os quais não podemos ter certeza.
Além
disso, mesmo se aceitarmos como válida a existência da expansão do Universo, a
validade das leis da Física em todos os tempos, etc., as teorias ainda
apresentam dificuldades.
Nossa
viagem pela história do pensamento humano nos mostrou tentativas realizadas
para se compreender a origem do universo. Essa busca existiu em todas as
civilizações, em todos os tempos. Mas a forma de buscar essa explicação variou
muito.
Nosso
conhecimento moderno sobre o universo está muito distante daquilo que era
explicado pelos mitos e pela religião.
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