AUTOR: PEDRO ABREU
O desejo de compreender, entender e vivenciar o conhecimento em sua unidade nos faz procurar instrumentais que permitam tal contemplação. A busca pela unidade e unificação do pensar torna-se um estilo que alimenta nosso viver.
Juntar pedaços, partes e fragmentos do saber descritos em termos diferenciados, é a meta principal das pessoas quando buscam compreender a Realidade.
O procedimento utilizado é reunir em uma “moldura” as formulações quirais, simbólicas, energéticas e virtuais que os humanos elaboram na medida em que determinados “artefatos” mentais conhecidos como memórias, mentes e simuladores tecnológicos reunidos, visam constituir uma unidade representativa do conhecimento.
A crise quanto a compreensão do simbólico como guia humano, ocorreu e ocorre no planeta em várias sociedades, se intensificando por toda existência da humanidade.
Influenciando pesquisas sociológicas, antropológicas e históricas em todo o mundo, o simbólico procura dar uma resposta às mudanças que têm ocorrido nas últimas décadas nas áreas das ciências sociais, comportamentais e tecnológicas.
Vivemos um momento onde um tipo de apocalipse mental começa a ter duas vertentes – o simbólico natural e seus derivados tecnológicos virtuais causados pelas alterações nas complexidades do mundo quiral.
Antes o simbolismo assumido em sua unidade, ocorria naturalmente no mundo antigo, mais do que no contexto atual. Como então surgiu a noção de dualidade nas sociedades ocidentais?
Admite-se que tal acontecimento de natureza mística tenha ocorrido durante a formação das primeiras cidades no Crescente Fértil, por volta de 3500 a. C., quando Marduk o Deus Sol, ao derrotar Tiamat o Oceano Primordial cortando-o e formando duas partes Céu e Terra, foi depois transplantado para judeus e em seguida para o mundo grego ocidental.
Os produtos simbólicos em forma de mitos tiveram seu explendor no Oriente Médio com as cosmogonias politeístas na Babilônia, passando as monoteístas em Israel, até se transformarem com os milesianos gregos em cosmologias naturalistas racionais.
Com o passar dos séculos estas visões explicativas do Universo foram se modificando passando do mythos ao logos(razão). Ambas eram consideradas essenciais e necessárias, não se conflitavam, mas se complementavam. Cada qual tinha sua esfera de competência, e era tolice misturá-las.
Os mitos contam estórias dos produtos simbólicos(deuses), focalizando aspectos da condição humana, que fogem a alçada do logos, descrevendo a origem, o sentido da vida e o modo como ocorreu a Criação.
A única maneira de calcular o valor e a verdade de um mito consistia em agir de acordo com ele e quando posto em prática, podia revelar a simbologia da humanidade. Contudo não era possível explicá-lo em termo de logos.
O logos como produto particularizado do símbolo, era uma forma paradigmática de pensar, permitindo revelar uma maneira de atuação das pessoas trabalharem a tecnologia no mundo.
Hoje vivemos numa sociedade de logos cientifico, enquanto o mito saiu de moda. Quando os estudiosos passaram a adotar os critérios da ciência, os símbolos passaram a ser vistos de forma empírica, racional e histórica, submetidos a um estilo de pensar que lhes era totalmente estranho.
Através da evolução herdamos um cérebro desenhado para simbolizar e dá sentido ao mundo e a Realidade, é este artifício que nos leva a aceitar de início qualquer explicação distinta do costumeiro, pois nos encontramos a todo momento envoltos no chamado domínio da “acreditação”.
Só recentemente quando o simbólico ao contemplar as crenças, e que estas envolvendo a fé, faz surgir por um momento a razão, produziu pelo uso da consciência a sua filha a certeza. A fé é inicialmente um estado de desejo, confiança, crédito, compromisso, promessa, crença, acerca de qualquer necessidade, atribuída aos elementos constituintes do simbólico agindo em qualquer domínio do saber. A expressão de fé se relaciona semanticamente com os verbos crer, acreditar, confiar e apostar, etc. E sua relação com os outros verbos, consiste em nutrir um sentimento de afeição por uma hipótese a qual se aposta ser verdadeira.
Tendo surgido em África, conforme demonstram os estudiosos na forma de animismo, a fé era vivenciada como um culto de lembrança aos ancestrais e não aos mortos como se tornou na modernidade, se expressando na medida em que necessitávamos substituir o objeto, fenômeno e fato por algum tipo de representação simbólica.
A importância da fé se encontra ligada a relação entre o sujeito e a representação desejada do que se denomina objeto, e por ser uma virtude que proporciona paz, é companheira da paciência e da aceitação de nosso viver. O propósito da fé é manter um estado de esperança em relação ao que se deseja obter. Assim, ter fé aceitando o que nos envolve emocionalmente é trazer à existência aquilo que ainda não foi revelado em termos consciente e que pode ser obtido, mesmo que seja apenas em termos representacionais como ocorre na Informática.
A função da fé é tornar manifesto o simbólico servindo de intermediário entre o real e aquilo que se torna fato, podendo ser manipulada através de vários desvios em forma de ideologia(filosofia, religião e ciência), com relação aos compromissos, crenças e promessas estabelecidas que as pessoas envolvidas se utilizam.
A fé é o instrumento básico de manipulação do domínio simbólico, ao se efetivar do real, passando ao símbolo, a representação, ao fenômeno, até atingir o fato, em termos de vivência, experimentos, teorias, conceitos, estereótipos, virtualidade e tecnologias de informação e comunicação.
As crenças oriundas da fé, são frutos da expressão de como o humano trabalha suas representações mentais no domínio simbólico utilizando-se algumas vezes do que as pessoas denominam de razão.
As ideias são fragmentos simbólicos que a lógica racional com suas limitações, utiliza por meio de modelos auxiliados pelas tecnologias virtuais no sentido de conseguir através do uso de um tipo de “tempestade”, mental, obtenção de uma unidade simbólica capaz de ser representada, em forma de “paradigma” que os pesquisadores dedicam a vida em procurar.
Somos a única espécie com consciência da morte e, no entanto, não sabemos racionalmente qual o significado da vida. Afinal, por que estamos aqui? A pergunta revela nossa busca por um sentido, devido à dificuldade de conviver com o fato de que, estejamos aqui apenas por estar. Uma situação que ninguém aceita socialmente. Os símbolos são a base da capacidade de comunicação e criatividade do humano, conhecer o significado dos símbolos e sua leitura é adentrar na estória para se viver histórias. Os humanos antigos acreditavam em tudo que se relacionava aos fenômenos envolvendo a Natureza, não é de se estranhar que os primeiros produtos simbólicos antropomorfizados(deuses) da Antiguidade, sejam representados como “reis-sol”. Os símbolos ao se converterem em formas adequadas para transmitir os significados, apontam para múltiplos sentidos, não em virtude de uma convenção humana, e sim devido a lei de correspondência que vincula todos os elementos entre si.
Entretanto, que motivos levam as pessoas a simbolizarem o pensamento acerca da Realidade durante suas vidas em todos os seus aspectos?
Mas o que torna a espécie humana tão especial e diferente das outras? O que nos torna humanos? A chave para o fato dos humanos serem especiais e únicos, está na maneira como conseguimos organizar, transferir, adquirir e representar informações e transformá-las em conhecimentos, uma situação que vem sendo alterada com as novas tecnologias.
É a nossa capacidade de representar por meio de produtos simbólicos o pensamento acerca da Realidade e de operacionalizar instrumentalmente estas informações em termos de símbolos que nos torna distintos das demais espécies.
Em vez de compreendermos o humano como um animal racional, uma invenção dos pensadores gregos, o que certamente não somos, temos que assumi-lo como um animal simbolizante, pois foi o simbólico como um atributo herdado que abriu o caminho para o surgimento da cultura, sociedade, tecnologia e criação da civilização. A capacidade de se comunicar através de símbolos encontra-se na raiz de nossa humanização, o que nos torna distinto de qualquer outro animal, visto possuirmos um único modo de adquirir e transmitir a informação. A informação simbólica é organizada e categorizada mentalmente, testada e ajustada de forma a acomodar-se em termos, modos de idéias, hábitos, e culturas antes de ser passada adiante, permitindo o surgimento do que as pessoas denominam de “estado de consciência”. Além do mais a construção simbólica não se encontra necessariamente vinculada ao estado presente. Distintos aspectos do esquema simbólico têm diferentes estruturas trabalhadas quando utilizamos suas unidades representacionais de modo hierárquico: palavras, frases, períodos, registros, como unidades de um esquema cultural de modo a se apresentar integrada e unificada. Temos de pensar na maneira como os produtos dos símbolos podem se juntar para formar estruturas hierárquicas maiores e na maneira como estes elementos simbólicos podem ser movidos e organizados de forma a produzir novos significados oriundos da vida, do Universo e da tecnologia. A informação simbólica quando transmitida não apresenta sinais de parentesco e nem de faixa etária, se parecendo com os esquemas comportamentais de outros animais. Mas há uma diferença significativa. Apesar de compartilhar de algumas propriedades relacionadas com os outros esquemas de herança, o esquema simbólico de transmissão e sua aquisição são diferentes de todos eles.
Quando transmitidos através de gerações, esse instrumental dá sentido a vida, capacita a formação de cultura e a manutenção da sociedade. A imagem como produto do imaginário é própria da substância e do significado, em aparência e aspecto onde não mais se considera o conceito de representação. Assim, quando se enfrenta a representação simbólica do ponto de vista não filosófico gera-se um impasse para a razão. A representação é uma antiga questão, que os filósofos reduziram a um conceito ontológico, afirmando que onde não há "representação" há mímesis. Sem ser pensada com rigor essa questão, foi depois reduzida à imagem. Para entender o alcance da representação em seu valor de verdade, não basta notar o que ela tem de imagem, denotando aparência de que o objeto é tido como um simulacro. Por “exemplo”, o amor não pode ser representado. A justiça, não pode ter representação. Pois, todos estes atributos pertencem ao domínio simbólico. A representação não diz respeito aquilo que é, mas a imagem do que aquilo é, se inscrevendo na tensão entre o verdadeiro e o que não é.
Dessa tensão é que provém a sensação do que se entende por "representação" no âmbito da filosofia e da ciência ao conceituar o que argumenta. Significa falarmos apenas do retrato do reflexo de um objeto considerado real, mas nunca do objeto. No caso da língua, sua representação não está ligada ao símbolo e sim ao signo. A questão da linguagem enquanto representação, começa como homoíosis (semelhança), como um instrumento representacional, que se exacerbou na pós-modernidade. A questão da representação ganha clareza, naquilo que hoje se torna evidente: a virtualização. O virtual é considerado a manifestação de uma ausência. Nesse caso a "virtualização", ganha novos sentidos. Entretanto, o nó da representação reside no fato de que ela pressupõe que há apreensão de um real gerado a partir de um fato anterior.
O termo representação como um signo é limitado, por apresentar uma dimensão básica na construção da Realidade. Mas o que devemos entender por representação? Ela gira em torno da construção de uma determinada compreensão em sua medida, implicando numa construção no espaço-tempo, sendo assim assumida apenas como um problema capaz de envolver o domínio simbólico. A cultura humana é única no sentido de que os símbolos permeiam todos os seus aspectos, visto ser sua principal característica ao fornecer maneiras adequadas de transmitir informações. Assim, a transformação cultural por conta dos símbolos, difere da hereditariedade e da evolução quiral.
Entende-se assim, porque a representação simbólica acerca do conhecimento é tão importante sendo descrita como uma das três componentes do conhecimento unitário, desde que determinadas considerações sejam assumidas.
No domínio simbólico, entende-se por representações mentais: signos, idéias, palavras, conceitos, categorias, imagens, estereótipos, etc.; eventos que estabeleçam uma compreensão de significados – representações (fenômenos e ocorrências) como a idéia de “frio” (sensação térmica no corpo), a palavra “clima”
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(condições atmosféricas e ambientais), a categoria “o clima está frio” (referência ao ambiente) e o estereótipo “gélido” (noção de comportamento).
As imagens são expressões desde antes da invenção do registro da palavra. Embora elas tenham sido estudadas sob variados aspectos, ainda não existe uma ciência da imagem que possa reunir adequadamente os gêneros pictóricos tradicionais (pintura, fotografia) e as novas mídias imagéticas (holografia, infografia, fotografia computacional, etc.), envolvendo o simbólico.
Muitas pessoas, perguntam o que é realmente um símbolo? – Ao observarmos pinturas, esculturas, obras arquitetônicas decoradas e até mesmo ornamentos em objetos de uso diário, seja de qual for a época é comum nos depararmos com as questões: Qual a origem dos símbolos? O que esses “objetos” significam? O que se “esconde” neles? Qual é sua função?
As questões voltadas para representatividade do símbolo, muitas vezes não são definíveis e nem conceituáveis são designadas pela expressão estereotipada de “conteúdo simbólico”.
Esse elemento simbólico expresso na forma de imagem é considerado um valor, um esquema, uma ligação entre o reconhecível e o reino da religião e da magia, expresso através da mítica.
Atualmente, os símbolos gozam de ampla aceitação em todos os âmbitos do saber e tecnologia. A imaginação já não é mais desprezada, sendo considerada irmã gêmea da razão, tornou-se inspiradora de descobertas e do progresso tecnológico, pois que se utiliza da simulação na Informática.
Aos pouco os efeitos da dominação da imagem que os pesquisadores estão tentando medir, as interpretações representativas antigas e o surgimento de novas, onde os símbolos encontram-se no centro, constituem o cerne da vida imaginativa, revelando e criando um espaço de discussão, um assunto ainda não dominado cientificamente. No dia-a-dia, em nossa linguagem, gestos e sonhos quer percebamos e não, cada um de nós se utiliza de símbolos, eles dão forma aos desejos e incitam a realização de empreendimentos, modelando comportamentos e provocando interesse em distintas disciplinas existente no domínio do conhecimento.
Seria pouco afirmar que vivemos em um mundo de símbolos – um mundo simbolizante não dominado vive em todos nós, representados por modelos, palavras, atos e esquemas. A expressão simbólica traduz o esforço do humano em buscar decifrar e subjugar um destino que lhe escapa através das imagens que o rodeiam e dão um sentido para vida e o viver. Um símbolo escapa a toda e qualquer conceituação e definição. É próprio de sua natureza romper os limites estabelecidos pela lingüística e reunir os extremos numa só expressão em forma de linguagem.
As palavras não sendo suficientes para sugerir o sentido de um símbolo, também não são suficientes para expressar completamente seu valor. Apesar do desenvolvimento dado a determinados verbetes, visando explicar os símbolos, nenhum deles tornou-se suficientemente adequado quanto a uma representação segura para descrever a Realidade e seus domínios. O símbolo tem a propriedade de sintetizar numa única expressão, as influências experimentadas pelo humano em conflito e em vias de harmonização com a Realidade quando se encontra em jogo a perda do equilíbrio quiral envolvendo vida e Natureza.
O estudo do simbólico não se encontra esclarecido, apesar dos trabalhos desenvolvidos, por vários pesquisadores espalhados pelo planeta visando permitir uma epistemologia capaz de expor de modo satisfatório os dados acumulados e relacionados com o assunto.
Isso não significa que não possamos estabelecer relações entre os símbolos mas, devido a história das interpretações simbólicas ainda está por ser escrita, seus dados não são suficientes para descrevê-los de forma plena.
Assim, o conhecimento científico dos símbolos ainda está sendo elaborado dependendo do potencial acadêmico e tecnológico das instituições escolares que os utilizam.
Enquanto se espera uma elaboração definitiva, o critério adotado é de assumir a unidade da Realidade como experimental, uma ordem empírica e prática que varia de acordo com o aspecto atribuído ao papel de cada símbolo nas sociedades.
O pensamento simbólico ao contrário do pensar filosófico e cientifico, procede não pela redução do múltiplo ao uno, mas pela distribuição do uno em múltiplos visando perceber e não fragmentar sua unidade representativa, seguindo o trajeto unidade-generalidade-especialidade. Por esse motivo, salientamos que a interpretação simbólica deve inspirar-se não apenas na figura, mas em seu movimento, meio cultural e em seu papel particular como instrumento social para o desenvolvimento de um horizonte universal do conhecimento.
O símbolo anuncia um domínio que não é racional, sendo uma maneira de informar aquilo que não pode ser apreendido de outra forma, ele jamais é explicado de modo definitivo, se encontrando cifrado e exigindo uma explicação atual de caráter paradigmático.
O símbolo se diferencia do signo por ser, este último uma convenção arbitrária que deixa alheios um ao outro o significante e o significado.
O símbolo pressupõe a união e homogeneidade do significante e do significado no sentido de um dinamismo organizador, que não se contenta em provocar ressonâncias, convidando o indivíduo a uma transformação e participação. No caso das expressões em forma algébricas, matemáticas e científicas os símbolos são apenas signos, onde seu alcance convencional encontra-se estabelecido e limitados pelos órgãos de padronização.
Qualquer tipo de conhecimento dito “objetivo” tende a eliminar o que resta do simbólico na linguagem para reter apenas a medida exposta racionalmente de um signo-sinal.
Visto ser um equívoco acreditar que a abstração da linguagem científica conduza ao símbolo; o símbolo é pleno, uno e completo. A abstração esvazia o símbolo e gera o signo.
O símbolo é mais que um signo e sinal, transcendendo o significado, ele depende da interpretação que por sua vez depende da predisposição e interesse do indivíduo, visto encontrar-se carregado de afetividade, emoção e dinamismo. O símbolo afeta as nossas estruturas mentais, por isso é comparado a esquemas afetivos, funcionais e motores cuja finalidade é demonstrar e mobilizar a totalidade de seu elemento representativo que muitos denominam de “mente” e seu orientador a “consciência”, mesmo sem ninguém saber sua localização no corpo humano e no espaço-tempo.
Quando qualificado representativamente como como eidolo-motor, são vistos como esquemas denominados de arquétipos e modelos comportamentais, pois são tidos como protótipos de conjuntos simbólicos gravados no humano constituindo-se numa forma de estrutura: os engramas.
Os arquétipos se manifestam como estruturas mentais quase universais, consideradas herdadas, revelando-se como uma espécie de agrupamento coletivo expressado de forma específica e carregado de potência energética ao ligar o universal com o individual.
Os mitos apresentam-se como transposições dramatúrgicas dos arquétipos, esquemas e símbolos, atuando como composição de conjunto, epopéia, narrativa, gênese, cosmogonia, teogonia, que se deixam entrever através de um processo capaz de ser racionalizado e descrito.
É através do símbolo que podemos elaborar uma ética de caráter universal, uma ética do conhecimento capaz de atender a humanidade atual de modo a livra-se da ética racional criada pelos gregos.
A primeira função do símbolo é de ordem exploratória. A segunda é quanto a falta de determinação do pressentimento, enquanto a terceira função é mediadora, reunindo os elementos componentes de sua unidade.
Unificador, o símbolo exerce uma função pedagógica e terapêutica, expressando uma realidade que corresponde as múltiplas necessidades do pensamento humano.
Resistir ao símbolo é amputar uma parte de si, pois um mundo sem símbolo provoca de imediato a morte do humano, ao retirar-lhe a fonte de suas manifestações imagéticas que permite um sentido e um horizonte para se viver. O símbolo é uma linguagem universal herdada, que exige uma ética, logica, gênero literário e esquemas representativos que não se enquadram na racionalidade por este motivo, ele é um instrumento adequado a compreensão humana introduzido no cerne do pessoal, do social e do cultural.
Um símbolo não é um argumento, porém se inscreve numa lógica determinada, revelando a existência de uma coerência funcional do pensamento. Entretanto, a manipulação dos símbolos efetua-se de conformidade com a lógica simbólica distinta das lógicas filosófica e científica.
O elo existente entre os símbolos não depende da lógica conceitual filosófica não fazendo parte nem da extensão e tampouco da compreensão do conceito. Não aparece no final de uma indução e de uma dedução e nem de qualquer procedimento considerado racionalmente argumentativo.
A lógica dos símbolos fundamenta-se na percepção da relação entre elementos, estruturas, séries, dimensões e domínios que escapa a toda e qualquer classificação religiosa, filosófica e científica permitindo ao humano obter esperança, bondade e ética.
Os símbolos se comunicam entre si obedecendo as leis que se baseiam em um único sentido, buscam manter sua unidade representativa a qualquer custo. A lógica que se exclui é a do raciocínio conceitualista; não é a da ordem captada pela percepção una que descreve e representa a Realidade.
Analisar intelectualmente um símbolo é mesmo que descascar um fruto para encontrar esse fruto. O conhecimento simbólico é uno, não se divide revelando uma tendência que é a de manter sua unidade no real acima de qualquer suspeita.
Enquanto os critérios do simbolismo se pautam na constância do relacionamento captada intuitivamente e correlacionada com a unidade da Realidade; os da racionalidade buscam se orientar pela dúvida, moderação, e evidência das partes que buscam se complementar através de um religare.
Ambos os procedimentos não são antagônicos em uma mesma pesquisa: enquanto a razão esforça-se por eliminar o simbólico visando desenvolver-se na univocidade da medida e do conceito, o símbolo coloca o racional entre parênteses, a fim de dar livre trânsito as analogias e ao imaginário, respondendo a sua maneira as necessidades categóricas que o sentimento e a emoção permitem na elaboração do conhecimento através do uso de estereótipos.
Podemos então indagar qual a possível “objetividade” do símbolo? Seus termos não seriam os da teoria conceitualista do conhecimento?
Com certeza não. A considerada objetividade na simbólica, não é uma identidade de um conceito, nem uma adequação da inteligência, um objeto conhecido e uma formulação verbal; é uma similaridade de atitude, uma participação imaginativa e emotiva em um movimento, numa estrutura, nos mesmos moldes e esquemas, cujas formulações e imagens são distintas, conforme os indivíduos, grupos e épocas constituintes de uma cultura que agem e se estabelecem.
Mas, o que são afinal os símbolos? Para muitos, são considerados representações sobre representações. A explicação para a existência das representações simbólicas tem sido assumida desde quando o humano busca compreendê-la.
Como então trabalhar uma compreensão una do conhecimento e sua representação nas escolas? Como entender os distintos modos de perceber a Realidade, vivenciados pelo humano, visando a superação da dualidade comportamental estabelecida pelos gregos, desejando obter respostas consistentes, satisfatórias e adequadas para formação do desenvolvimento cultural? Como a tecnologia passou a operacionalizar os símbolos? Pode-se responder a tais questões, resgatando a partir dos três últimos séculos, o surgimento de duas mudanças importantes na superação da Filosofia quanto a representação das idéias acerca do conhecimento da Realidade. Uma, delas foi o interesse dos iluministas em substituir a representação dos objetos do mundo físico visando operacionalizar o estudo da natureza humana, iniciado por Tito Lucrécio Caro e ajustado por René Descartes em forma de “mente” conforme visto nos escritos dos filósofos David Hume e Immanuel Kant.
A outra foi a mudança de foco para o estudo dos símbolos na direção do entendimento do pensamento, linguagem, inteligência, tecnologias, artes e gestos que as pessoas utilizam para dar sentido ao viver.
Neste aspecto, a eleição do simbólico como foco principal de atenção para se compreender a Realidade, tornou-se a base do estudo referente ao conhecimento envolvendo a tecnologia atual.
O estudo da trajetória do desenvolvimento da simbolização humana e sua organização, ainda encontram-se na fase “embrionária”, onde as pesquisas realizadas são em maioria, feitas a partir de perspectivas comportamentais. Entretanto, já se consegue aceitar que os processos simbólicos fazem parte da condição humana.
Entendemos estar preparados, após um longo processo de adaptação e evolução, para compreender e nos engajar no ensino e na aprendizagem dos mesmos, e vivermos a vida de um modo consciente a partir do simbólico.
Durante parte do século XX, pesquisadores, baseados nas obras de Ernst Cassirer, demonstraram que o uso de símbolos foi a chave para compreensão e evolução dos indivíduos, criando assim, a cultura.
Uma importante reordenação na representação do conhecimento passou a incluir a investigação dos símbolos nestes universos. Em vez de pressupor a existência não dependente das formas simbólicas, alegou-se que a linguagem é parte destas formas, e que de fato constitui, em vez de refletir a Realidade.
Não é possível qualquer atividade simbolizante separada da percepção, imaginação e linguagem. Nós utilizamos símbolos para nos comunicar com as pessoas, para regular nossa conduta, para representar a Realidade e realizar inferências.
Os símbolos são em sua origem ações e condutas sociais não adaptadas e exigidas, são aspectos de atitudes funcionais e instrumentais que se realizam fora do contexto dimensional do mundo quiral e que podem ser organizadas em torno de um fim.
Assim, os símbolos são ferramentas herdadas pelo humano para se comunicar com os demais domínios em primeiro plano, e consigo mesmo em segundo.
Originalmente os símbolos nascem como resultado das necessidades de comunicar-se acerca de objetos-referentes e em especial de objetos ausentes dos demais.
Em nossa espécie, os símbolos são os principais veículos de ligação dimensional e relacional da sociedade. Na verdade, são os instrumentos de socialização e formação da cultura através dos quais são compartilhados mundos mentais distintos.
São os símbolos que determinam e limitam nossa capacidade de compartilhar representações de mundos de outras pessoas, mas seu desenvolvimento é por sua vez, determinado e condicionado por essa capacidade.
O desenvolvimento de esquemas simbólicos depende em parte da nossa necessidade e capacidade de transmitir aos outros, informações acerca das representações dos objetos e de serem aqueles capazes de se adequarem ao que recebem.
Essa capacidade é o que nos pressupõe saber que os outros têm memória e mente e que são indivíduos possuidores de um domínio simbólico formulador de expressões sensoriais.
Os símbolos não são apenas, representações que servem para conseguir informações através de outros. São representações para os outros acerca das informações e eventos da Realidade em domínios e dimensões distintas.
Para o desenvolvimento simbólico, a imitação tem uma significação especial, ela é um procedimento básico para construção dos significantes, conforme demonstra a experiência com crianças com distúrbios de desenvolvimento que não costumam apresentar eficácia na capacidade de imitação.
A conjugação dos recursos expressivos com a capacidade de imitação é que permite as primeiras expressões na formação de um mundo representativo mental.
Entretanto, a origem dos símbolos não deve ser buscada apenas no desenvolvimento cognitivo das capacidades de assimilação e representação, mas também no desenvolvimento da genética, das emoções e dos afetos das pessoas.
Novos modos de utilizar o simbólico na representação da Realidade estão sendo melhorados com a descoberta das tecnologias de comunicação e informação.
São as tecnologias cognitivas associadas, as denominadas “inteligências”, indicando que os símbolos tiveram uma origem mas não têm fim.
muito obrigago
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